sábado, 25 de abril de 2020

1º BIMESTRE - HISTÓRIAS DE ALFABETIZAÇÃO: DAS PRÁTICAS COTIDIANAS ÀS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARTE 4


Na nossa aula anterior, nós vimos o método analítico e fomos até à segunda fase, dentre as quatro que Mortatti, didaticamente, separou para que melhor compreendêssemos alguns momentos  vividos pelas práticas docentes e concepções sobre a alfabetização.
Nesta aula daremos continuidade às fases, porém antes, vamos recapitular no texto, a primeira e a segunda fase. Deixem perguntas sempre que houver dúvidas sobre os conteúdos! O mesmo arquivo está disponível em word e pdf.
Se cuidem, por favor. Atendam às orientações da OMS. Ah, também coloquei o link do blogspot, caso queiram ler por lá.

Fonte ARTIGO ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: UM POUCO DE HISTÓRIA1
Lorita Helena Campanholo Bordignon
Marilane Maria Wolff Paim



Recapitulando

Na aula anterior vimos os Métodos Analíticos que junto aos Métodos Sintéticos estiveram no centro da discussão no período da metodização do ensino da leitura e da escrita.

Essa primeira fase intitulada por Mortatti (ver o artigo) como Metodização, adotava em particular os métodos sintéticos para o ensino da leitura:

"(...) Dever-se-ia, assim, iniciar o ensino da leitura com a apresentação das letras e seus nomes (método da soletração/alfabético), ou de seus sons (método fônico), ou das famílias silábicas (método da silabação), sempre de acordo com certa ordem crescente de dificuldade. Posteriormente, reunidas as letras ou os sons em sílabas, ou conhecidas as famílias silábicas, ensinava-se a ler palavras formadas com essas letras e/ou sons e/ou sílabas e, por fim, ensinavam-se frases isoladas ou agrupadas. Quanto à escrita, esta se restringia à caligrafia e ortografia, e seu ensino, à cópia, ditados e formação de frases, enfatizando-se o desenho correto das letras". (MORTATTI, 2006, p. 5).

MORTATTI, M. R. L. História dos métodos de alfabetização no Brasil. Conferência proferida durante o Seminário “Alfabetização e letramento em debate”, promovido pelo Departamento de Políticas de Educação Infantil e Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação. Brasília, 2006. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ Ensfund/alf_mortattihisttextalfbbr.pdf>. Acesso em: 14 maio 2016.



Na segunda fase é intitulada A Institucionalização do Método Analítico. É a fase que se inicia com a República, ainda a princípio com a disputa entre métodos analíticos e sintéticos. Temos também a presença das Cartilhas ( recurso moderno para a época, que inicialmente concretizou os métodos sintéticos) de forma mais ostensiva, sendo utilizada por muitos professores como material de planejamento nas aulas de alfabetização. O método analítico é defendido por educadores e aos poucos tem sua presença nas cartilhas. Importante termos em mente que as Cartilhas já existiam, inclusive no Brasil.

"Os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos, porém, foram mudando no decorrer do tempo, e outras concepções foram sendo criadas, recriadas, inventadas e reinventadas sempre com o objetivo de atender à necessidade de ensinar as crianças a ler e a escrever, o que trouxe mudanças significativas a esse processo".
(Artigo ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: UM POUCO DE HISTÓRIA, de Lorita Helena Campanholo Bordignon e Marilane Maria Wolff Paim).


1 - Exercício
Preencha o quadro de acordo com as características citadas acima:
No período da Metodização, como era ensinada:

Leitura
Escrita









(Depois veremos uma postagem só sobre cartilhas, para que vocês conheçam alguns modelos antigos e outros mais recentes.)

Dando continuidade.

Na terceira fase é chamada de Alfabetização sob Medida teve início mais ou menos entre 1920 até 1970. 
Esse período é marcado pela adoção de métodos mistos, ou seja, pela mistura de vários métodos. Inclusive os métodos são relativizados e secundarizados, ou seja, colocados em segundo plano. Neste momento não há uma preocupação enorme sobre qual seria o melhor método, ou se a utilização do método seria imprescindível para o processo de alfabetização.
Nessa época também há a propagação dos estudos do educador Lourenço Filho acerca de conhecimentos da psicologia empregada à educação escolar.
 
"Nesta época, propagaram-se os estudos do importante educador brasileiro
do século XX, Lourenço Filho, acerca de conhecimentos da “[...] ciência psicológica
aplicada à educação
” (SGANDERLA; CARVALHO, 2010, p. 2). Atuando em vários
campos da área educacional, Lourenço Filho utilizou-se de várias e importantes
publicações de livros, entre eles, “[...] o ideário renovador no Brasil de forma sistemática,
foi a Introdução ao estudo da Escola Nova” (SAVIANI, 2010, p. 200), cuja
primeira edição, datada do ano de 1930, continha relatos de como se desenvolvera
a Escola Nova na Europa. O livro baseava-se num tripé científico, assentando seus
estudos em três áreas: biologia, psicologia e sociologia. Tão grande foi o sucesso
desta obra, que foi reeditada por diversas vezes".

  (Artigo ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: UM POUCO DE HISTÓRIA, de Lorita Helena Campanholo Bordignon e Marilane Maria Wolff Paim).

Lourenço Filho a partir de seus estudos nas área de educação escolar e da psicologia, cria os testes ABC
 “(...) os testes ABC”, os quais [...] podem ser analisados como instrumentos de uma nova psicometria articulada ao tratamento estatístico, que visa identificar, lógica e objetivamente, a variedade mental e se fundamenta no conceito de maturação; contém oito provas destinadas a medir os atributos particulares do escolar, para a organização eficiente das classes escolares. [Constituindo-se num] Método prático e econômico e de aplicação em grande escala, essas provas psicológicas medem: a coordenação visivo-motora, memória imediata, memória motora, memória auditiva, memória lógica, prolação, coordenação motora; e mínimo de atenção e fatigabilidade.
 (Artigo ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: UM POUCO DE HISTÓRIA, de Lorita Helena Campanholo Bordignon e Marilane Maria Wolff Paim).


Mas o que é Psicometria?
A Psicometria é um ramo da psicologia que estuda e elabora testes para avaliação psicológica, para avaliar, medir o desenvolvimento e avaliar a aplicação dos conhecimentos. Psico - Psiquismo, Metria - Medição, Métrica. Medir a inteligência, a atenção/concentração, maturidade motora etc.

Testes ABC 
Os testes ABC foram utilizados para medir a maturidade das crianças para serem alfabetizadas. O objetivo era minimizar o alto índice de reprovação, pois muitos alunos não conseguiam obter êxito (sucesso) no processo de alfabetização. Assim, segundo a Psicometria era possível perceber, antecipadamente, através dos testes, se as crianças teriam condições ou não de iniciar o processo de alfabetização, medindo alguns critérios considerados necessários, além de auxiliar na formação das turmas, considerando a condição dos alunos, agrupando-os em classes segundo essa medição.

 
"Diante disso, no período de 1920 a 1970, a alfabetização no Brasil “[...] era
entendida como o aprendizado da leitura e escrita, sendo o método de ensino subordinado
ao nível de maturidade
alcançada pelas crianças. A medida do seu nível
de maturidade levava à classificação das crianças e agrupamento em classes homogêneas
para a alfabetização”
(SGANDERLA; CARVALHO, 2010, p. 8). Ou seja, os
alunos eram agrupados de maneira variada, de acordo com suas aptidões. “Classe
forte para os inteligentes, classes fracas para os que [tivessem] mais dificuldade

[...]” em seguir o desenvolvimento da turma (SGANDERLA; CARVALHO, 2010, p. 11).Soares (2012, p. 13) observa que, à época, de cada mil crianças que ingressavam
na 1.ª série, “[...] apenas 449 chegavam à 2.ª série, em 1964; em 1974 – portanto,
dez anos depois – de cada mil crianças que ingressavam na 1.ª série, apenas
438 chegavam à 2.ª série”. Desse modo, chegou-se aos anos 1980 com dados semelhantes,
ou seja, com pouco ou nenhum progresso nesses dados. Foi quando se
iniciou no Brasil a organização por ciclos, segundo os quais “[...] a 1.ª série correspondia
à série de alfabetização – só o aluno considerado ‘alfabetizado’ era promovido
à 2.ª série” (SOARES, 2012, p. 14)."
 (Artigo ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: UM POUCO DE HISTÓRIA, de Lorita Helena Campanholo Bordignon e Marilane Maria Wolff Paim).

Vamos pensar alguns aspectos indicados na avaliação, medição dos testes ABC

Prolação
A prolação é a capacidade de articulação, pronúncia... Está relacionada à fala, à oralidade.
Vamos abrir aqui, um espaço para conversarmos. A hora da rodinha na Educação Infantil; ao contar histórias para as turmas do Ensino Fundamental e abrir espaço para discutir sobre a história em relação às atitudes das personagens; Quando um aluninho traz para a sala uma situação que tem preocupado o dia a dia da sociedade e, a partir dele, a turma passa a pesquisar, buscar informações s trocar essa informações em uma exposição oral posteriormente... Todas essas experiências, que muitas vezes, parecem sem grande utilidade, são imprescindíveis para o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da expressão etc. Essas e outras atividades trabalham a oralidade, ampliação de vocabulário, a prolação, o pensamento (pois para falar, pensamos primeiro, organizando nossas ideias), a argumentação etc. São atividades que muito ajudam ao processo de alfabetização e letramento (letramento é um termo que vimos rapidamente no início do ano, mas em breve, veremos de novo).

Significado de Prolação

substantivo feminino Fonética. Ação ou efeito de pronunciar; pronunciação.
https://www.dicio.com.br/prolacao/
*Dicionário Aurélio online
Coordenação Motora
Coordenação, organização, controle, domínio dos movimentos. "Harmonia" nos movimentos.
Coordenação Visomotora
A habilidade visual (ver, prestar atenção, perceber através do órgão visual) articulada ao movimento das mãos, do corpo para realização das tarefas do dia a dia. Coordenação da informação visual (aquilo que estamos vendo, percebendo), unindo-a às habilidades motoras fina, grossa e sensorial.
Memória Auditiva
Habilidade de reconhecer e compreender o que se houve. Alguém nos pergunta algo. Nós retemos a pergunta e buscamos, pensamos a resposta. Ao reconhecermos a voz de alguém; o som a determinada letra (sinal gráfico) etc.

Fatigabilidade

Significado de Fatigabilidade

substantivo feminino Característica ou estado de fatigável.Tendência para se cansar; característica de quem se cansa com facilidade.Enfraquecimento muscular por esforço repetido e/ou contínuo. https://www.dicio.com.br/fatigabilidade/
*Dicionário Aurélio online

A quarta fase, chamada de Alfabetização, Construtivismo e Desmetodização, foi marcada pelo questionamento que à Escola pelo fracasso na alfabetização.Conforme cita o texto, urgências políticas e sociais influenciam o campo da educação, especialmente no início da década de 80.


 "Perfazendo uma análise sobre os caminhos da alfabetização no Brasil, Franco e Raizer (2012, p. 785) destacam que, em virtude de urgências políticas e sociais que acabaram por influenciar o campo da educação, especialmente no início da década de 1980, o fracasso da escola no processo de alfabetização de seus educandos passou a ser questionado, situação que deu origem ao quarto momento da alfabetização, denominado de Desmetodização do ensino.
Conforme a análise de Mortatti (2006, p. 10), foi nesse período que
[...] introduziu-se no Brasil o pensamento construtivista sobre alfabetização, resultante das pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita desenvolvidas pela pesquisadora argentina Emília Ferreiro e colaboradores. Deslocando o eixo das discussões dos métodos de ensino para o processo de aprendizagem da criança (sujeito cognoscente), o construtivismo se apresenta não como um método novo, mas como uma “revolução conceitual”, demandando, dentre outros aspectos, abandonarem-se as teorias e práticas tradicionais, desmetodizar-se o processo de alfabetização e se questionar a necessidade das cartilhas. Assim, a partir de 1980 inicia-se o quarto momento, caracterizado como “alfabetização: construtivismo e desmetodização”."
 (Artigo ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: UM POUCO DE HISTÓRIA, de Lorita Helena Campanholo Bordignon e Marilane Maria Wolff Paim).


Comentários do Blog

 
Vamos pensar algumas questões referentes à segunda e  terceira fase descritas pelo artigo.

1ª questão
Na segunda fase os métodos analíticos têm destaque, pela mudança de concepção do fazer docente, do ensinar.
 Se antes, nos métodos sintéticos o entendimento era que "caminhos" para o sucesso da aprendizagem na alfabetização seria garantido somente através da dosagem do conhecimento partindo sempre do mais simples para o mais complexo, ou seja, do "resumido", do "sintetizado", da "parte"... Os métodos analíticos trazem uma proposta diferenciada.
Ao "simplificar" demais, sintetizar a aquisição do conhecimento da língua para estar alfabetizado, torna-se esse mesmo aprendizado, muito mecânico. Vinculado à memorização somente, uma memorização puramente mecânica. Muitas vezes, sem sentido e significado para a criança. deixando de desenvolver outras habilidades e competências tão importantes que vão além da aquisição do código. Letra, Som, Sílaba são "partes" que sozinhas, isoladas não fazem sentido algum, tampouco, estimulam a curiosidade e o interesse. Já a palavra, a frase, o texto são unidades que apresentam sentido, por estarem relacionadas a um contexto. Pelo menos, assim devia ser o critério para escolhas de palavras, frases e textos nos métodos analíticos.

A terceira fase é marcada pela presença dos testes ABC. Quais as consequências do teste? Primeiro que o teste é unificado, cada criança, além das potencialidades, características, dificuldades também traz uma experiência social. Os testes ABC não levam em conta as diferenças, a partir do momento que medem aspectos de maturação considerados imprescindíveis para a alfabetização, segundo um parâmetro particular, como se todas as crianças fossem iguais.
Outro fator, foi considerar a maturação física e psíquica como aspecto extremo e decisivo para início da alfabetização, dando a ideia de "a criança deve estar pronta para". Não se pensou em como trabalhar junto à alfabetização, esses aspectos. Eles foram vistos como "condições para".
Outro fator que precisamos pensar é a classificação das turmas em fortes e fracas como outra garantia de sucesso da alfabetização. O ideal de classes homogêneas foi durante muito tempo motivo de preocupação dos professores e professoras como possibilidade de realização de uma ação didática mais eficaz, o que depois, com educadores e pesquisadores vimos que tratou-se de um equívoco.


sexta-feira, 24 de abril de 2020

1º BIMESTRE - EXERCÍCIO SEMANA DE 20 A 24 DE ABRIL 1º BIMESTRE - HISTÓRIAS DE ALFABETIZAÇÃO: DAS PRÁTICAS COTIDIANAS ÀS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARTE 3


Responda
1 – Entre 1876 a 1890 se discutiu muito sobre a necessidade dos métodos mais apropriados para o processo de ensino da leitura e da escrita. Cite uma diferença central entre o método sintético e o método analítico.

2 – Quais são os métodos sintéticos? 

3 – Quais sãos métodos analíticos? Descreva as características de cada um deles.

4 – Quando o termo Alfabetização passou a ser utilizado substituindo a expressão Ensino da Leitura e da Escrita?

5 – Você sabe dizer por qual método foi alfabetizado (a)?

6 – Identifique o método:

 A) D. Amélia é professora da 1ª série. Iniciou o processo de alfabetização, apresentando as letras para a turma. Ela tem trabalhado constantemente a identificação do alfabeto para que a turma memorize cada letra, relacionando-a à grafia, ou seja, ao “desenho” da letra. As crianças também vão treinar bastante a grafia. Só depois, ela partirá para as famílias silábicas de cada letra (B+A =BA, B+E+BE...) e assim por diante, até chegar na formação de palavras e, mais tarde, pequenas frases. _______________________________________
B) Esse método se inicia a partir de frases que fazem parte do universo infantil._________________________________