quinta-feira, 23 de abril de 2020

1º BIMESTRE - HISTÓRIAS DE ALFABETIZAÇÃO: DAS PRÁTICAS COTIDIANAS ÀS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARTE 3


Método Analítico (continuação)
Fonte MÉTODOS E DIDÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO: HISTÓRIA,
CARACTERÍSTICAS E MODOS DE FAZER DE PROFESSORES
Isabel Cristina Alves da Silva Frade
Centro de alfabetização, leitura e escrita
FaE / UFMG
Fonte ARTIGO ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL: UM POUCO DE HISTÓRIA1
Lorita Helena Campanholo Bordignon
Marilane Maria Wolff Paim

Os métodos analíticos iniciam seu caminho do todo para as partes. Partem da síntese para a análise. Observam o todo e seguem para as partes analisando-as. Fazem parte desse conjunto, três caminhos, três métodos: 
a) Palavração - parte da palavra.
b) Sentenciação - parte de uma unidade mais completa, a frase.
c) Global  - parte do texto.
Bom lembrarmos que não iremos estudar agora os métodos. Estamos apenas conhecendo de forma breve os seus princípios, resumidamente.
a) Palavração
Apresenta-se um grupo de palavras, as quais os alunos deverão reconhecer pela representação gráfica - escrita. 
 As palavras não são decompostas obrigatoriamente no início do processo, são apreendidas globalmente e por reconhecimento. A escolha de palavras também não obedece ao princípio do mais fácil ao mais difícil. São apresentadas independentemente de suas regularidades ortográficas. O importante é que tenham significado para os alunos.




Imagem retirada da internet.
          b) Sentenciação
Conforme já foi dito, a proposta é partir de uma unidade de significado mais completa que é a frase, a sentença. O aluno deve compreender o sentido da frase e reconhecê-la. Só no decorrer do processo que ele analisará as partes menores (palavras e sílabas). Além desse procedimento, existe um outro, que é a partir de algumas palavras, compará-las e escrever novas palavras.
Frase: Sábado, fui com a minha família ao Parque de Madureira.
Exemplo: A partir dessa frase que surgiu na turma, devido às experiências do grupo, a frase é registrada.  Com ela, podemos trabalhar a oralidade, a expressão através da conversa informal: quem sempre vai ao parque. Quem mora longe, quem mora perto. O que tem no parque. O que gostam mais. O que deveria melhorar. Como eles se comportam no parque. Pedir que escrevam a frase no caderno. Entregar a frase em palavras para que coloquem na ordem como uma quebra-cabeça. Que identifiquem as palavras da frase etc. Até chegar à construção de novas palavras e formação de novas frases, para isso, o processo chega na decomposição das palavras em sílabas.

c) Global
 Parte do texto, da história que é trabalhada durante certo tempo. O aluno memoriza e entende o sentido geral do que é lido. Claro que são textos bem pequenos e simples. Depois partem para a análise das frases, identificam as palavras, comparando-as, ou seja, comparando suas composições silábicas.

Continuando a História...
Esses são os dois grandes grupos que foram o motivo de disputas sobre a adoção e defesa do método mais eficaz, o melhor método para alfabetizar.
"No campo das concepções pedagógicas, iniciou-se “[...] uma acirrada disputa entre partidários do então novo e revolucionário método analítico para o ensino da leitura e os que continuavam a defender e utilizar os tradicionais métodos sintéticos, especialmente o da silabação” (MORTATTI, 2006, p. 8), com algumas divergências no sentido de tentar-se enquadrar a alfabetização a partir de alguns métodos – sintéticos (das partes para o todo), analíticos (do todo para as partes), mistos, entre outros – imbricados nos contextos atuais relacionados à alfabetização." (Artigo Alfabetização no Brasil: Um pouco de História - página 55)
A partir daí surgiu a busca pela construção de métodos, modelos, concepções que dessem conta de ensinar o processo da leitura e da escrita às crianças. Segundo Mortatti, ainda no artigo citado acima, essa busca vem desde 1876 até os dias atuais. No entanto, ela divide essas abordagens sobre as concepções de alfabetização em 4 fases. Ou seja, o que estudamos até agora, nós veremos novamente, dividido por fases.
Primeira fase -  fase da metodização do ensino da leitura
De 1876 a 1890
"[...] para o ensino da leitura, utilizavam-se, nessa época, métodos de marcha sintética (da “parte” para o “todo”): da soletração (alfabético), partindo do nome das letras; fônico (partindo dos sons correspondentes às letras); e da silabação (emissão de sons), partindo das sílabas. Dever-se-ia, assim, iniciar o ensino da leitura com a apresentação das letras e seus nomes (método da soletração/alfabético), ou de seus sons (método fônico), ou das famílias silábicas (método da silabação), sempre de acordo com certa ordem crescente de dificuldade. Posteriormente, reunidas as letras ou os sons em sílabas, ou conhecidas as famílias silábicas, ensinava-se a ler palavras formadas com essas letras e/ou sons e/ou sílabas e, por fim, ensinavam-se frases isoladas ou agrupadas. Quanto à escrita, esta se restringia à caligrafia e ortografia, e seu ensino, à cópia, ditados e formação de frases, enfatizando-se o desenho correto das letras". (MORTATTI, 2006, p. 5).
             Segunda Fase - Institucionalização do Método Analítico. A utilização da Cartilha 
No período da República. 
 Essa segunda fase se caracteriza a princípio pela disputa de métodos, é o início da organização republicana.
 Com a estruturação da República (a República no Brasil data de 1889) e a universalização do acesso à escola, ou seja, o Brasil entende esse acesso como sinônimo de modernização e volta sua atenção para o aprendizado da leitura e da escrita entendendo que a Cartilha seria o recurso mais eficaz para o ensino. Esse período foi denominado como A institucionalização do método analítico. Importante ressaltar que ao final da década de 1910, o termo alfabetização começa a ser utilizado para se referir ao ensino inicial da leitura e da escrita.
As primeiras cartilhas, na verdade, surgem no século XIX em 1834 e foram muito presentes até o século XX muito presentes, sendo utilizadas por muitos professores nas classes de alfabetização. 
"Embora “[...] as primeiras cartilhas [datem] do século XIX, mais precisamente no ano de 1834”, sua utilização foi muito forte durante o século XX, sendo considerada “[...] como uma primeira experiência na área da alfabetização, o que permitiu que a sociedade atual experimentasse novos métodos” nesse sentido (FARIAS, 2008, p. 3.829). Logo, a cartilha passou a ser utilizada por muitos professores como suporte para o planejamento das aulas de alfabetização.
No Brasil, um grupo de professores normalistas formados pela Escola Normal de São Paulo aos poucos foi assumindo cargos de funções diretivas na “instrução pública”, considerando a cartilha como algo moderno que vinha para concretizar o método sintético. Nesta perspectiva, por volta de 1890, a Cartilha da Infância “[...] foi adotada pelo governo paulista e depois por todo Brasil” (SANTOS, 2007, p. 340). Esse instrumento teve sucessivas edições com publicações se estendendo pelo menos até meados da década de 1990, perfazendo, portanto, aproximadamente, um século em vigor.
Os contextos sociais, culturais, econômicos e políticos, porém, foram mudando no decorrer do tempo, e outras concepções foram sendo criadas, recriadas, inventadas e reinventadas sempre com o objetivo de atender à necessidade de ensinar as crianças a ler e a escrever, o que trouxe mudanças significativas a esse processo".

(Artigo Alfabetização no Brasil: Um pouco de História - página 56 e 57)

Mas o que são Cartilhas? As cartilhas são livrinhos com lições de alfabetização. Esses livrinhos surgiram no Brasil mais ou menos em 1870 e foram muito presentes até 1980/90 Possuíam diferentes formatos, um material didático muito utilizado pelas escolas.
Aqui nesse link, você encontra fotos, imagens de cartilhas antigas. Dê uma olhadinha:

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