Livro Alfabetização e Letramento
Magda Becker Soares
Antônio Augusto Gomes Batista
(Página 47 – 51)
O
que é Letramento?
O
conceito de letramento surgiu de uma ampliação progressiva do próprio conceito
de alfabetização.
O
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa apresenta a seguinte definição estrita
de alfabetização.
Ela
é o “ato ou efeito de alfabetizar, de ensinar as primeiras letras”.
Assim, uma pessoa
alfabetizada é entendida como aquela que domina as “primeiras letras”, que domina
as habilidades básicas ou iniciais do ler e do escrever.
Ao
longo do século XX, porém, esse conceito de alfabetização foi sendo
progressivamente ampliado, em razão de necessidades sociais e políticas, a
ponto de já não se considerar alfabetizado aquele que apenas domina o sistema
de escrita e as capacidades básicas de leitura e escrita, mas aquele que sabe
usar a linguagem escrita para exercer uma prática social em que essa modalidade
da língua é necessária.
Essa
ampliação do conceito de alfabetização se manifesta, por exemplo, nos Censos.
Leia o texto abaixo, de
Magda Soares, sobre como os Censos foram progressivamente ampliando seu
conceito de alfabetização:
A
ressignificação do conceito de alfabetização nos Censos
... até os anos 40 do
século passado, os questionários do Censo indagavam, simplesmente, se a pessoa
sabia ler e escrever, servindo, como comprovação da resposta afirmativa ou
negativa, a capacidade de assinatura do próprio nome.
A partir dos anos 50 e
até o último Censo (2000), os questionários passaram a indagar se a pessoa era
capaz de “ler e escrever um bilhete simples”, o que já evidencia uma
ampliação do conceito de alfabetização: já não se considera alfabetizado aquele
que apenas declara saber ler e escrever, genericamente, mas aquele que sabe
usar a leitura e a escrita para exercer uma prática social em que
a escrita é necessária. Essa
ampliação do conceito revela-se mais claramente em estudos censitários desenvolvidos
a partir da última década, em que são definidos índices de alfabetizados
funcionais (e a adoção dessa terminologia já indica um novo conceito que se
acrescenta ao de alfabetizado, simplesmente), tomando como critério o nível
de escolaridade atingido ou a conclusão de um determinado número de anos de
estudo ou de uma determinada série (em geral, a quarta do ensino fundamental),
o que traz, implícita, a ideia de que o acesso ao mundo da escrita exige
habilidades para além do apenas aprender a ler e a escrever. Ou seja: a
definição de índices de alfabetismo funcional utilizando-se, como critério,
anos de escolaridade, evidencia o reconhecimento dos limites de uma avaliação
censitária baseada apenas no conceito de alfabetização como “saber ler e
escrever” ou “saber ler um bilhete simples”, e a emergência de um novo conceito,
que incorpora habilidades de uso da leitura e da escrita desenvolvidas
durante alguns anos de escolarização.
(Soares, M.
Alfabetização: a ressignificação do conceito. Alfabetização e Cidadania.
Revista de Educação de Jovens e Adultos. RaaB, n. 16, julho 2003, p.10-11.)
Na imprensa e em muitas
pesquisas, a expressão alfabetismo funcional é usada como sinônimo da palavra
letramento.
ATIVIDADE - leia
a)
De acordo com o Censo de 2000, cerca de 14% da população brasileira com 15 anos
ou mais é analfabeta. De acordo com o mesmo Censo, cerca de 25% da população
com a mesma faixa etária seria analfabeta funcional. Com base no texto acima,
responda:
1
- O que é que, segundo dados coletados em 2000, 14% da população brasileira
jovem e adulta não sabia?
R:
14% da população não dominavam o sistema de escrita; 25% dominavam o sistema de
escrita, mas não faziam uso desse conhecimento em práticas sociais de leitura e
escrita (não eram letrados).
2
- O que é que, segundo dados coletados em 2000, 25% da população brasileira
jovem e adulta não sabia? Utilizar a escrita e a leitura nas situações do
cotidiano, enquanto ferramentas sociais. Ou seja, utilizá-las em uma dimensão
de suas funções sociais.
b)
Uma pesquisa realizada bienalmente – o INAF – apreendeu, em 2001, os seguintes
indicadores de alfabetismo da população brasileira entre 15 e 65 anos, por meio
de um teste de habilidades de leitura:
O
INAF - Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional - é uma pesquisa
desenvolvida pelo Instituto Paulo Montenegro e por Ação Educativa. É feito por
amostragem e se baseia na aplicação de um teste de capacidades de leitura e de
um questionário sobre as práticas de escrita e leitura da população. O termo
alfabetismo, utilizado no INAF, é sinônimo de letramento.
TABELA:
Classificação da população segunda a condição de alfabetismo
Analfabetismo
9%
Alfabetismo
– nível 1 31%
Alfabetismo
– nível 2 34%
Alfabetismo
– nível 3 25%
Veja
como são descritos os níveis 1 e 3 de alfabetismo (letramento):
Nível
1: “As pessoas que acertaram de 3 a 9 itens do teste foram classificadas no
nível 1 de alfabetismo (...). Esse grupo acerta com frequência os itens mais
simples, consegue localizar informações explícitas em textos muito curtos (...).
Consegue também ler títulos bem destacados e, quanto à localização de
informações, o reconhecimento de números é um elemento facilitador. Questões
mais complexas tiveram porcentual muito mais baixo de acerto nesse grupo (...).
O
teste aplicado pelo INAF compunha-se de 20 tarefas em diferentes níveis de
complexidade.
Nível
3: “Foram classificadas no nível 3 de alfabetismo as pessoas que acertaram de
16 a 20 itens do teste. Essas pessoas demonstraram a capacidade de ler textos
mais longos, podendo orientar-se pelos subtítulos, podem localizar nos textos
várias informações de acordo com as condições estabelecidas, conseguem estabelecer
relações entre as partes do texto, comparar dois textos, realizar inferências e
sínteses.”
(RIBEIRO, Vera Masagão et al. Letramento no Brasil:
alguns resultados do Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional. Educação e
Sociedade, v. 23, n. 81, p.49-70, dez. 2002).
Compare
os dois níveis de letramento – o mais baixo e o mais alto – e responda:
A)
O que significa ter um nível de letramento alto? B) O que significa ter um
nível de letramento baixo?
R:
São muito restritas as capacidades e conhecimentos envolvidos no nível 1 de
alfabetismo, a ponto de caracterizarem, antes, uma condição de analfabetismo
funcional; embora o número de analfabetos tenha se mostrado menor no Inaf, é
provável que o grau alfabetismo 1 inclua uma parte dos analfabetos do Censo,
uma vez que, conceitualmente, esse nível se confunde com o analfabetismo
funcional. Deve-se atentar para o fato de que boa parte dos indivíduos situados
no nível 1 de alfabetismo, passaram pela escola (89% deles) e mais da metade
(53%) estudaram de quatro a sete anos no ensino fundamental, o que significa
que a escola não foi capaz de alfabetizá-los funcionalmente. Além disso, vale a
pena ressaltar que o nível mais baixo de alfabetismo se concentra nas classes D
e E, o que mostra que tende a atingir as populações mais pobres; o analfabetismo
e o analfabetismo funcional, portanto, fazem parte do fenômeno mais geral da
desigualdade social no País.
Das atividades
anteriores, você pode concluir que, hoje, a alfabetização – o saber codificar e decodificar, o domínio
das “primeiras letras”, segundo a definição do dicionário Houaiss – não é mais
suficiente. A sociedade atual, extremamente grafocêntrica, isto é, centrada
na escrita, exige também o saber utilizar a linguagem escrita nas situações
em que esta é necessária, lendo e produzindo textos com competência.
É para essa nova dimensão
da entrada no mundo da escrita que se cunhou uma nova palavra, letramento. O conceito designa, então, o
conjunto de conhecimentos, atitudes e
capacidades envolvidos no uso da língua em práticas sociais e necessários para uma
participação ativa e competente na cultura escrita.
Assim, para
corresponder adequadamente às características e demandas da sociedade atual, é
necessário que as pessoas sejam alfabetizadas e letradas; no entanto, há alfabetizados não letrados e
também é possível haver analfabetos
com um certo nível de letramento. Para compreender melhor essa relação
entre alfabetização e letramento, leia o texto abaixo:
“Um adulto pode ser analfabeto e letrado: não sabe ler nem escrever,
mas usa a escrita: pede a alguém que escreva por ele, dita uma carta,
por exemplo (e é interessante que, quando dita, usa as convenções e estruturas
linguísticas próprias da linguagem escrita, evidenciando que conhece as
peculiaridades da linguagem escrita) – não sabe escrever, mas conhece as funções
da escrita, usa-as, lançando mão de um “instrumento” que é o alfabetizado (que
funciona como uma máquina de escrever...); pede a alguém que leia para ele a
carta que recebeu, ou uma notícia de jornal, ou uma placa na rua, ou a
indicação do roteiro de um ônibus – não sabe ler, mas conhece as funções da
escrita, e usa-a, lançando mão do alfabetizado. É analfabeto, mas é, de certa
forma, letrado, ou tem um certo nível de letramento.
Uma
criança pode ainda não ser alfabetizada, mas ser letrada:
uma criança que vive num contexto de letramento, que convive com livros, que
ouve histórias lidas por adultos, que vê adultos lendo e escrevendo, cultiva e
exerce práticas de leitura e de escrita: toma o livro e finge que está lendo (e
aqui de novo é interessante observar que, quando finge ler, usa as convenções e
estruturas linguísticas próprias da narrativa escrita), toma papel e lápis e
“escreve” uma carta, uma história. Ainda não aprendeu a ler e escrever, mas é,
de certa forma, letrada, tem já um certo nível de letramento.
Uma
pessoa pode ser alfabetizada e não ser letrada:
sabe ler e escrever, mas não cultiva nem exerce práticas de leitura e de
escrita, não lê livros, jornais, revistas, ou não é capaz de interpretar um
texto lido; tem dificuldades para escrever uma carta, até um telegrama – é
alfabetizada, mas não letrada.
Vamos completar:
a)
Saber ler e escrever na década de 40
significa saber ler e escrever ________________________________
b)
Saber ler e escrever a partir da década de
50 significava ser capaz de ler e escrever ___________________.
c)
É uma prática social da escrita e da
leitura _______________________e____________________________
d)
O Analfabeto é aquele que não se apropriou
do ________________ linguístico. Não saber ler e escrever.
e)
O Nosso sistema de escrita se chama
Sistema de Escrita ________________.
f)
O alfabetizado funcional é aquele que
consegue ______________ a escrita e a leitura em situações do dia a dia, pois
sabe além do ler e escrever, visto que, desenvolveu habilidades para o uso da
leitura e da escrita.
g)
Letramento é o __________________ de habilidades,
conhecimentos, atitudes e capacidades envolvidos no uso da língua em práticas sociais
e necessários para uma participação ativa e competente na cultura escrita.
(
um bilhete/ utilizar/ escrever uma carta, ler um livro/ Alfabética/ conjunto/ o
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2 comentários:
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